Mulheres indígenas: espíritos da floresta conectados ao mundo - CIDSE

Mulheres indígenas: espíritos da floresta conectados ao mundo

É um erro pensar que as sociedades indígenas são monolíticas, imutáveis. Assimilamos comportamentos como outras culturas. Estávamos fazendo isso muito antes da chegada dos europeus. A adoção de novos costumes não significa dar as costas à tradição.

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Os portugueses não vêm ao Brasil em caravelas ou vestindo roupas inadequadas para os trópicos como no século XIX. Mas o Natal ainda é comemorado no décimo nono de dezembro, como na época, como comer farofa feita com nossa mandioca. Os colonizadores também foram influenciados pelos colonizados. Usamos roupas de algodão e telefones celulares, mas ainda veneramos nossos mitos e ancestrais e vivemos em contato permanente com a natureza. Nossas tradições são instrumentos, as ferramentas ou objetos que nos definem como povos indígenas.

Como a maioria das sociedades do mundo, a maioria das nações indígenas é patriarcal. Embora uma vez esse arranjo tenha sido necessário, é porque fazia parte de várias culturas indígenas. Sou Baré, mas conheço um mito Munduruku que fala de uma época em que as mulheres eram as líderes. As coisas não precisam necessariamente ser assim. O mais importante é que os indivíduos se respeitem, que reconheçamos suas qualidades independentemente de gênero ou etnia. O mundo está interconectado e sabemos que estamos passando por um período de mudanças drásticas. Nós, as mulheres do mundo, não podemos nos permitir o luxo de ser meras espectadoras em um momento tão crítico. A mulher de hoje também não é a mesma de 500 anos atrás. Ela sabe que compartilha um novo papel no mundo. E ela não está fazendo isso apenas para mostrar, mas porque ela sabe que é vital. O movimento de mulheres nativas está ligado ao movimento feminista mundial. As escolhas que fizermos determinarão nosso futuro. Não podemos dar as costas à experiência e intuição. A Terra é nossa mãe.

Sou a primeira mulher a chefiar a COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira). Quem imaginaria isso alguns anos atrás? Além disso, quem teria acreditado que o COIAB poderia existir? Isso foi possível porque descobrimos que, embora muitas diferenças nos separassem (“os índios são todos iguais” é outro mal-entendido recorrente), em nossa diversidade, as lutas de todos os povos da Amazônia são semelhantes. Nossos oponentes usam as mesmas táticas e seu objetivo é o mesmo - expulsar-nos de nossas terras para explorá-los de forma irresponsável.

A tecnologia moderna é usada contra nós, então por que não usá-la para nós? Os povos da Amazônia vivem em um território maior que a maioria dos países; muitos de nós só nos conhecemos recentemente. Usando a tecnologia, podemos trocar experiências com mais frequência. Isso nos facilitará a organização de quatro eventos este mês na Universidade Federal do Amapá, em Macapá - o XIX Encontro de Mulheres Indígenas Amazônicas; A XIXª Cumbra Amazônica - Amazônia Viva, Humanidade Segura [cúpula amazônica - uma Amazônia viva, uma humanidade segura]; A AGM da COICA (Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica [coordenação das organizações indígenas da Bacia Amazônica]); e o XIXº X Chamado dos Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará [assembléia dos povos indígenas do Amapá e do Norte do Pará].

Nós somos os guardiões da floresta e faremos o possível para defendê-la. E nunca deixaremos de ser seus habitantes e mulheres indígenas.

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Mulheres indígenas: guardiãs da floresta conectadas ao mundo

Está errado pensar que as sociedades indígenas são imutáveis, monolíticas. Assimilamos hábitos como qualquer cultura. Já fazíamos isso muito antes do europeu chegar aqui. Adotar novos trajes não significa abrir mão de tradições. O português não vem mais ao Brasil, mas usa roupas inadequadas aos trópicos, como no século XVI. Mas continua a garantir o Natal no dia XIX, a partir de dezembro, como nessa época - até mesmo a comer farofa feita com a nossa mandioca. Os colonizadores também foram influenciados por colonizados. Usamos roupas de algodão e celulares, mas ainda cultivamos nossos mitos e ancestrais, e vivemos em constante conexão com a natureza. Nossas tradições, instrumentos, ferramentas ou objetos que definem como indígenas.

Como a maioria das sociedades do mundo, boa parte das nações indígenas são patriarcais. Se em algum momento esse arranjo for feito necessário, é porque isso faz parte de diversas culturas indígenas. Sou Baré, mas conheço um mito Munduruku que falava um tempo como as mulheres mandavam. Não precisa ser, utilize, assim: mais importante é que mantenha o respeito entre os indivíduos. Que reconheça suas qualidades, reduza o gênero ou a etnia. O mundo está conectado e sabemos que está passando por um momento de transformações violentas. Nós, mulheres do mundo todo, não podemos dar ao luxo de sermos meras espectadores em uma hora tão decisiva.

Uma mulher de hoje também não é a mesma de 500 anos atrás. Ela sabe que cabe um novo papel no mundo. E não faz isso apenas por declaração, mas por saber o que é necessário. O movimento de mulheres indígenas está ligado ao movimento feminista mundial. Nossas escolhas vão determinar o nosso futuro. Não podemos abrir mão de nossas experiências e intuição. A Terra é mãe.

Sou a primeira mulher a assumir a liderança da Coordenação de Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Quem pensaria nisso há alguns anos? Aliás, quem pensará na própria existência da Coiab? Isso foi possível porque descobrimos que, embora tenhamos muitas diferenças (outro fator recorrente: índice é tudo igual), como todos os povos dos povos originários da Amazônia são semelhantes, dentro da nossa diversidade. Nossos adversários usam a mesma tática e seu mesmo objetivo: expulsar nossas terras para explorar sem responsabilidade.

Como novas tecnologias são usadas contra nós, por que não usar em nosso favor? Os povos da Amazônia vivem em uma extensão de terra maior do que a maioria dos países, muitos de nós só fomos nos conhecer há pouco tempo. Graças a elas, podemos trocar trocar com mais frequência. Elas vão permitir realizar quatro eventos este mês na Universidade Federal do Amapá, em Macapá: o II Encontro das Mulheres Indígenas Amazônicas; a IV Cumbre Amazônica - Amazônia Viva, Humanidade Segura; o Congresso Geral de Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica); e o I Chamado dos

Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará. Somos guardiões da floresta e vamos fazer tudo para defender-la. E nunca deixe de ser indígenas e mulheres.

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