“Este artigo foi publicado originalmente em 20 de agosto de 2024 no site do Network Development Group da CAFOD, organização membro da CIDSE na Inglaterra e no País de Gales.”
Cajamarca é um paraíso natural no coração da Colômbia, cercado pelas altas montanhas verdes dos Andes. É uma área ecológica linda e extremamente sensível. É também uma terra agrícola histórica – vital para a produção de água e alimentos – suas colheitas são transportadas e vendidas para outras cidades e territórios em toda a nação sul-americana.
Em março de 2017, 98% da população de Cajamarca, na Colômbia, votou na Consulta Popular para proteger suas fontes de água e meios de subsistência, rejeitando a mineração na área.
La Consulta Popular é uma consulta popular juridicamente vinculativa. Unida, a comunidade de Cajamarca interrompeu os planos para o que poderia ter sido a maior mina de ouro a céu aberto da América Latina (La Colosa), proposta por uma das maiores empresas de mineração do mundo – AngloGold Ashanti.
O mandato da votação tem uma forte base constitucional e de direitos humanos, tanto nacional quanto internacionalmente, mas as autoridades colombianas e a empresa de mineração ainda contestam a validade dos resultados.
Consulta Popular ameaçada desde o início
Pouco depois de Cajamarca votar contra o projeto de mineração, o Ministério de Mineração e Energia da Colômbia rejeitou publicamente o resultado. Em 2018, após pressões da indústria, o Tribunal Constitucional Colombiano reverteu sua posição original: decidiu contra as consultas juridicamente vinculativas no contexto de “atividade extrativa”.
O Tribunal ordenou que futuras consultas populares não pudessem intervir em decisões sobre a extração de recursos do subsolo. No entanto, o Tribunal Constitucional não se referiu a Cajamarca, pois as decisões do Tribunal não podem ser aplicadas retrospectivamente.
Uma saga de sete anos de luta
No último ano, dois tribunais municipais decidiu que os resultados da consulta permanecem juridicamente vinculativos e precisam ser cumpridas. Essas duas decisões, em menos de seis meses, são um endosso da democracia ambiental.
Para o COSAJUCA (Colectivo Sócio Ambiental Juvenil de Cajamarca), as decisões do tribunal “garantem que o mandato popular [de 2017] é legal e válido […] e se convertem em um claro chamado para que as instituições nacionais implementem seus resultados, tomando as decisões necessárias sobre licenças ambientais e concessões de mineração”.
Sobre a COSAJUCA COSAJUCA é uma organização local que defende a justiça ambiental e os direitos humanos na região de Tolima. Eles fazem campanha para proteger a água, os páramos – um habitat de pântano precioso e único – e seus direitos à terra. Eles são acompanhados pelo parceiro da CAFOD, SIEMBRA, uma ONG que trabalha pela defesa dos direitos ambientais e humanos na Colômbia. |
Sara Moreno, advogada da SIEMBRA, explica que, embora a Consulta Popular tenha sido uma vitória democrática, eles precisam continuar lutando para defender os resultados da consulta e sua implementação.
“O balanço geral é que, após sete anos da Consulta Popular em Cajamarca, a consulta juridicamente vinculativa ainda é um exemplo de cidadãos se mobilizando para impedir um projeto de mineração, mas ainda é uma luta que não terminou com a consulta”
Sara Moreno, advogada da SIEMBRA
Nos últimos sete anos, enquanto liderava campanhas de advocacy para aumentar a conscientização sobre sua causa, a SIEMBRA trabalhou ao lado da comunidade de Cajamarca para lutar contra novas atividades de mineração propostas.
Mantendo a resistência viva
Além das batalhas judiciais, Sara destaca a necessidade de manter vivo o espírito de resistência dentro da comunidade.
Em 2023, as estratégias de advocacy da SIEMBRA tiveram foco nacional e internacional. Em 2024, as atividades planejadas também incluem iniciativas locais: colocação de placas em córregos para lembrar a comunidade da importância das principais fontes de água que estão defendendo do projeto de mineração; organização de protestos pacíficos; desenvolvimento de campanhas internas; treinamento da comunidade para lutar pelo reconhecimento de seus direitos.
O caso da consulta popular em Cajamarca é um caso emblemático de democracia participativa. La Consulta Popular é um exemplo positivo para outros países em termos de proteção dos direitos das comunidades de interesses corporativos e proteção de Our Common Home.
O que é um Amicus Curiae? A CIDSE, a CAFOD e outras organizações católicas de justiça social da Europa e América do Norte enviaram em julho um Amicus Curiae (um consultor imparcial de um tribunal, oferecendo informações, conhecimento especializado ou percepções que tenham relação com as questões do caso) a um Tribunal Municipal na Colômbia para reiterar a importância de adotar os resultados da consulta popular juridicamente vinculativa (La Consulta Popular) realizada pela comunidade em Cajamarca, Colômbia, em 2017. |
Informações adicionais:
O trabalho da CAFOD na Colômbia concentra-se na construção da paz, nos direitos humanos, no cuidado com a nossa Casa Comum e na violência de gênero.
Contato: Claudia Navarro, Oficial de Comunicações, América Latina e Caribe, CAFOD (cnavarro(at)cafod.org.uk)
Foto da capa: Agricultores com plantações de pastinaca (arracacha). Crédito: Siembra/CAFOD